terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Ternura



Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"

1 comentário:

fotodamar disse...

Uma x disseram-me "Poucos tem a capacidade de mimar hoje em dia. E contigo sinto-me assim, é isso que espero, sentir-me acarinhada."
Eu só sei acarinhar quem eu amo...